23:38

... @olhares.com por Nuno Bernardo


Vida tão Estranha - Rodrigo Leão

Por toda a minha vida venho seguindo um rasto invisível que me promete um lugar no coração da felicidade. 
Passo a passo, percorro um caminho que me enche de vontade de continuar caminhando, mesmo se tantas vezes tropecei, chegando a cair, mesmo se tantas vezes a minha escolha me levou a encarar abismos, ou ainda que tenha sentido que cheguei a um beco sem saída. Aqui a resposta depressa se fez ouvir, e uma das poucas certezas que trago na vida é saber que é sempre possível dar um passo atrás para escolher um caminho melhor. Melhor, sim, mas não ausente de dor ou de culpa ou de tantas outras coisas que tantas vezes insistimos em carregar às costas como se o Mundo todo dependesse do nosso respirar, porque para tudo na vida há essencialmente o "querer". 

Querer ser Feliz é das principais obrigações que deveríamos assumir de cabeça erguida, sermos egoístas de uma forma positiva porque sim, poderemos tirar algo de positivo de um acto egoísta se formos coerentes e verdadeiros, connosco e com os outros. 
Pauto a minha existência pela verdade. Já errei muito e respeito todos os meus erros, já terei sido o próprio erro para alguém. Essa é a consciência que tomo ao longo do que espero ser ainda um breve percurso de vida. Tudo tem o seu avesso, tudo tem a sua consequência e ainda que tudo tenha a melhor das intenções nem sempre a consequência o reflecte, tudo dependerá sempre da perspectiva. 

Por onde passo, onde estou, procuro estar inteira. Nem sempre é fácil, ninguém disse que ser Feliz o fosse, mas é infinitamente recompensador, deitar a cabeça na almofada e pensar que demos tudo o que temos e que por isso nada mais devemos a ninguém ou ao Mundo. A vida são momentos e também houve aqueles em que sucumbi à depressão de ver um esforço ser em vão, uma espera ser inglória, mas quando consegui de novo erguer a cabeça, sorri e disse olhando-me nos olhos: "eu dei tudo de mim". Só assim me reconheço, mesmo quando digo que não queria ser assim, mesmo quando acho que seria mais fácil de outra forma. No fundo, digo-o da boca para fora. Orgulho-me da postura que assumo. 

A ti, meu amor, que tanto admiro, de dentro para fora, tão antes de tudo ter começado, só te posso dizer que és uma das partes mais lindas do meu caminho e que desejo muito que este também seja o teu próprio caminho. Integro a tua equipa e apoio incondicionalmente todas as tuas escolhas, mesmo quando te pareça que não e ainda que manifeste a minha não concordância, quando for para ir a jogo, estarei sempre do teu lado, ainda que esse não seja o meu lado...
A perfeição não existe, sempre o defendi, e os desafios, as dificuldades, as diferenças são necessárias entre duas pessoas, promovem um crescimento interior, e uma descoberta um do outro que não têm preço. As sintonias desempenham semelhante papel, e as nossas... nem preciso falar. Faço tudo, para te ver feliz, não há nada que me pudesse fazer mais feliz. e um dia, que os nossos caminhos sigam em rumos diferentes apenas te peço que não me percas o rasto, que guardes o que te dei, e que me prometas que vais querer ser Feliz! 

[2011/04/25]

00:30


The reader @olhares.com por R de Rien

Hiding my heart away - Brandie Carlile


Subjugado, prepotente,
conquistado, ou conquistador,
mas sempre quente!

Controlado, sem controlo,
consciente ou inconsciente,
mas sempre louco!

Desconhecia alguns parâmetros do prazer,
talvez porque entre nós não há limite,
descobrimos as nossas próprias fórmulas,
e que não há loucura que nos evite.
Retiramos do fundo mais um pormenor,
trazemos a lume uma inspiração,
e um último suspiro que sucumbe
nas profundezas de uma emoção.
E quando nada mais faria prever,
que um último sinal ainda iria nascer,
tu deslaças no acordar,
o gemido que estava a faltar,
e sem palavras,
seguindo o instinto,
aproximo-me, e vingo,
o êxtase, contido...


[2011/04/24]

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23:56


Pedro Abrunhosa - Agarra-me esta noite


Preciso voltar a ouvir os segredos que me contam os teus beijos,
sentir todas essas emoções sem palavras para atrapalhar,
ficar para sempre entregue a esses lábios quentes e doces
sentir o calor que me sobe pelo corpo e que me faz querer não mais parar.

Delinear-te a face na ponta da minha língua,
brincar com os teus sentidos, num gesto de sedução,
fechar os olhos e ver-te tão claramente,
controlar o teu corpo com a palma da minha mão.

E naquele instante súbito,
pleno de paz, equílibrio e verdade,
onde se ocultam todas as dúvidas,
e onde os gestos se rasgam pela metade

Eu não quero mais pensar,
quero apenas deixar-me guiar,
os momentos merecem ser vividos,
Sou tão tua, aqui somos nós, livres para Amar.

[2011/04/20]

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Rainbow @olhares.com por Filipe Caetano

Smile - Nat King Cole

Aproximo,
procuro sugar o teu mel
beber o doce do teu carinho,
o agridoce das tuas palavras,
e digerir o amargo dos teus silêncios...

Rodeio,
retiro o que de melhor tens,
assimilo o complicado de ti,
aceito a essência que és,
... e entrego-me! Sem fim...

Retiro-me,
respeitando tempos e espaços,
as marés e os abraços,
o paralelo da vida e ...
as barragens erguidas...

Voo,
no delinear de um beijo sentido
no conforto de um abraço perdido
mas mais que isso...
no despertar dos lábios... num sorriso!

O meu sorriso... és tu!

[2011/04/18]
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Não tenho hipótese! Às 6 horas da manhã sou literalmente posta fora da cama, pela própria. Não lhe interessa se me apeteciam mais dez minutinhos de ronha, não se compadece com o facto de mal ter dormido, nada mais lhe importa senão tirar o peso do meu corpo de cima de si. Os blackouts nas janelas correm deixando entrar no quarto a claridade de um novo dia que amanhece.

Contrariada, cambaleio até à casa de banho onde o duche já corre. Sabe-me bem ser massajada pela água tépida nesta manhã tão igual a tantas outras. Tlim... abro a pestana, que até agora apenas se mantinha semi-aberta. Mas que dia é hoje? Hoje não trabalho, estou de férias! Mas que droga esta de tecnologia que não adivinha que estou de férias e que podia ficar não apenas mais dez minutos mas a manhã inteira na cama se assim me apetecesse. Terminei o duche e dirigi-me ao quarto deitando um olhar fulminante à cama que parecia rir-se de mim.

Bom, já que estava acordada mais valia aproveitar o dia!

Fui para a varanda saborear a minha torrada e o meu sumo natural de laranja. Sou uma mulher moderna sim, mas moderna de espírito, não compactuo com estas invenções de tomar umas pastilhas que substituem os alimentos, e eu que até nem sou grande admiradora da cozinha, cada vez mais me rendo às suas maravilhas.

Olho a cidade que se movimenta lá em baixo, frenética, impaciente, mal-humorada. Comprei recentemente um filtro que permite que o ar aqui na minha nuvem seja mais respirável. A verdade é que com todos os avanços tecnológicos não fomos capazes ao longo dos tempos de acabar com os poluentes, isso seria um grande rombo no negócio de tantos que não se preocupam com o bem estar do planeta. Não há bela sem senão e então estamos assim, ainda muitos poluentes são lançados na atmosfera, embora já tenha passado o tempo em que tínhamos de andar de máscara na rua.

Olho para trás e vejo que afinal de contas não evoluímos assim tanto. Ou pelo menos não soubemos evoluir. A evolução não contém em si, ou não deveria conter, uma total perda de personalidade, de ideais. Sim, podemos evoluir mas sem perder o que temos de tão bom.

Acordei um dia num Mundo que tinha perdido a sua identidade à custa sabe-se lá de quê. Uma espécie de "revolução industrial" dos tempos modernos, ou seja, uma "revolução tecnológica". Sim, foi benéfica para muitos sectores, mas o Ser humano nunca para, quer sempre mais. A dada altura as pessoas deixaram de socializar, viviam cada um para seu lado e mesmo dentro da própria família cada um tinha o seu próprio mundo, onde uma tv e um computador eram tudo o que necessitavam. Perdeu-se o hábito de conversar, as pessoas foram-se esquecendo do uso da palavra, e até a escrita foi sendo substituída por códigos de simples utilização.

Entrei em depressão. O que estavam a fazer a este mundo, o que estavam a fazer às pessoas, eu não podia aceitar que isto acontecesse. Sim, eu gostava de tecnologia, do que ela me podia oferecer, mas com conta, peso e medida. Também quero conversar, rir, passear e almoçar em família e com amigos, não quero ser um Eremita dos tempos modernos. Foi um susto muito grande.

Era ali, na minha varanda sobre a cidade, que todos estes pensamentos me corriam na mente. Senti-me feliz por ter ido viver para uma nuvem. Não me considerava uma pessoa snob ou mesquinha, mas o que é facto é que prezava acima de tudo o bem estar e algumas das preciosidades que o antigamente me proporcionava e por isso faço tudo por perpetuar lembranças e hábitos ou costumes. Só na minha nuvem sobre a cidade isso é possível, e quando saio da minha casa e entro no meu carro voador, movido a energia solar, sorrio enquanto olho para o retrovisor e penso nos dias em que demorava 2 horas no trânsito para chegar ao trabalho num para/arranca infinito.

Hoje sou feliz!

Vivo num futuro só meu onde recebo de braços abertos todos que me queiram acompanhar e se comprometam a não desvirtuá-lo.

Obrigada passado por me ofereceres este futuro...

Texto escrito para: Fábrica de Histórias

[2011/04/17]

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Acorda menina linda - Jorge Palma

Eu celebro-me! E nessa celebração reúno, não em presença mas dentro do meu coração, todos aqueles que tão carinhosamente sempre me acompanham...
Por vezes penso que já nada espero, e só percebo que afinal esperava sim, quando o que não esperava não chega... mas entretanto sou compensada com a chegada do FMI cá a este cantinho à beira mar plantado!
Estou cada vez mais Eu e com  mais sabedoria (risos)

Sirvam-se :)

[2011/04/12]

23:38


L'invitation @olhares.com por R de Rien



Song for Someone - Perry Blake



A cabeça dói faz dias!

O invólucro que me cobre a Alma, mostra fortes sinais de necessitar de descanso. É urgente que se rasgue, que se dispa, que se regenere. É em busca dessa libertação, que não é apenas espiritual, que rumo como que em fuga em direcção ao meu lugar favorito de sempre... o mar.
Sento-me contemplando este gigante que me encanta, fecho os olhos, sinto o cheiro, recebo o astro rei que me arrepia a pele e me percorre o corpo entrando-me na corrente sanguínea e proporcionando uma sensação de prazer inexplicável.

Inicio então a minha viagem...

Neste momento, já não estou cá. Sou conduzida, não sei como nem por quem, sinto-me flutuar em direcção ao mar, sinto o frio que me arrefece o corpo tomar conta de mim ternamente, como se pegasse ao colo, como se eu fosse uma bem precioso de manuseamento cuidado, frágil...

E mergulho...

É incrível a sensação de nos entregarmos assim e simplesmente deixar-mo-nos levar, confiantes, pelas mãos do desconhecido, do inesperado, de uma fantasia ou de um sonho. Às vezes na vida é preciso arriscar, é preciso seguirmos o coração sem dar grande espaço aos "ses" e aos "e depois". A vida é feita de escolhas. É isso que lhe dá o sal, como o deste mar imenso.
Eu escolhi mergulhar de cabeça.

E não me arrependo da minha escolha, é tão lindo aqui em baixo, tão pacífico, tão aconchegante. Já nem me lembro da dor de cabeça e desdobro-me em mil e um movimentos de natação, procurando absorver cada momento, cada oferta que esta natureza tão generosamente me apresenta, vidrando-me os olhos, enchendo-me a alma. Curiosamente, penso agora, não preciso respirar aqui - que maravilha! Até de respirar eu andava cansada, mas aqui é tudo tão diferente, tudo tão mais naturalmente natural.

Estou eu nas minhas explorações pelo fundo do mar, acompanhada por mil peixinhos de todas as cores, eles não têm medo de mim, pareço ser-lhes familiar ou então estão habituados a ter por aqui estes seres estranhos que somos nós. Mas dizia eu, que enquanto explorava o fundo do Oceano, dei conta de umas ruínas. Fiquei logo com a adrenalina a mil porque é assunto que me cativa, sempre cativou. tudo o que tenha a ver com cultura e civilizações, e ter um exemplo disso numa inusitada viagem ao fundo do mar era a cereja no topo do bolo .... pensava eu.

Entrando no que em tempo teria sido um portão de entrada ou algo parecido, apanho um grande susto. Vindo na minha direcção, este rapaz, lindo por sinal, encara-me num misto de espanto e alegria.

- Olá! Estava tão sozinho por aqui,  ainda bem que chegaste!
- Estavas à minha espera!? Arrisquei meio incrédula.
- Claro que sim, há anos que espero por ti!
- Mas, balbuciei, o que queres dizer com isso, de onde me conheces, como sabias que viria, se nem eu própria o sabia? Eu continuava estupefacta com a estranha situação, mas havia algo no jeito daquele rapaz que me inspirava paz, serenidade, confiança.
- Anda, vem comigo - disse ele - vou levar-te a conhecer um lugar, e lá explicar-te-ei tudo, não tenhas medo! - E estendeu-me a sua mão.
- Eu não tenho medo, respondi quase em automático, nem sei porquê, mas simplesmente não tenho! E fui, seguindo aquele rapaz moreno, de olhos expressivos e que emanava uma energia incrível capaz de me cativar instantaneamente.

Chegamos a um lugar que contando ninguém acredita, mas eu passo a descrever. Era um jardim, sim, era de facto um jardim no fundo do mar. Cheio de corais, algas e peixes de todas as cores, exalando um aroma (sabiam que podemos cheirar no fundo do mar sem encher os pulmões de água?) único. Era de facto um lugar mágico, eu estava assoberbada por aquele cenário idílico, e por aquela companhia fenomenal.

Sentamo-nos num banco de jardim feito de coral e de repente o sol começou a baixar trocando de lugar com a lua que agora se afigurava no alto do Mar. Existe o Sol e a Lua também no fundo do Mar. Estava a ser um momento bem alto na minha vida esta viagem, pois parecia que tudo o que eu mais admirava estava ali naquele lugar onde palavras stress, trabalho, desilusão, cansaço, entre tantas outras que pareciam viver em mim nos últimos dias não eram sequer uma lembrança ou uma assombração, não havia simplesmente lugar para elas. Depois, na presença daquele rapaz, bem capaz de ser aquele amor que toda a vida sonhei para mim... estava já na dúvida de se estaria numa viagem ou num sonho, mas isso não me preocupava no momento, apenas queria vivê-lo intensamente.

- Sabes, Rita, começou ele mas eu interrompi-o.
- Sabes como me chamo!?
- Claro que sei, sei tudo sobre ti, há muito tempo que te acompanho, como uma estrela guia, com a diferença de que estou no fundo do mar e não no céu.
- Mas como assim?
- Vou contar-te tudo!
- Estou a ouvir-te com atenção - disse-lhe com um brilho nos olhos próprio da emoção.
- Há alguns anos atrás senti que não pertencia ao lugar onde vivia, às pessoas que me rodeavam. Andava desgastado, viver tornara-se mais um sofrimento, uma obrigação do que uma alegria. Não sabia exactamente atribuir uma responsabilidade para esse facto, apenas sabia que era assim. Nessas alturas procurava o mar. E num desses dias vi-te, sentada no pontão de olhar ausente - estavas linda! - E nesse momento eu corei - Senti uma sintonia contigo, como se te lesse por dentro e percebesse que aquilo que eu vinha sentindo também se passava na tua própria vida. Apeteceu-me aproximar, mas existia uma qualquer barreira que não me permitia, era algo mais forte do que eu, e por isso preferi não forçar.
Passado algum tempo voltei a encontrar-te, talvez te lembres, trocamos duas ou três palavras, entre as quais me disseste o teu nome, curiosamente sem perguntares o meu de volta. Perguntei-te se estavas bem, mas respondeste apenas "nada está bem" e seguiste deixando-me angustiado e sem saber bem porquê.
Quando decidi vir nesta viagem para dar algum sentido à minha vida a tua imagem reflectiu-se na minha mente, claramente como se estivesses à minha frente e então eu percebi. Agora só tinha de te fazer entenderes também.
Desde então, tenho acompanhado a tua vida e o rumo que ela estava a tomar com preocupação, fui teu conselheiro nas noites de lua cheia em que procuraste no terraço as respostas para as tuas dúvidas, ou naqueles momentos em que, sem dúvidas, hesitavas na melhor decisão a tomar. Talvez nem sempre tenha sido o melhor dos conselheiros, mas fui com toda a certeza o mais dedicado porque me apaixonei por ti desde a primeira vez que te vi e te senti.
Neste momento eu simplesmente viajava nas palavras, uma viagem dentro de outra viagem - maravilhoso!
- Foste tu que me conduziste até aqui?
- Não, eu apenas te ensinei o caminho! Tu estás aqui porque essa foi a tua escolha, uma escolha da qual, espero, nunca te venhas a arrepender.
- Jamais me arrependerei, acredita. Eu sentia precisamente que não pertencia ao lugar onde vivia, precisava urgentemente de encontrar um rumo, um lugar onde me sentisse integrada, alguém que me compreendesse e me cuidasse - e dizendo isto corei - e parece que finalmente a minha busca não foi em vão.
Nesse momento os olhares pararam um no outro por alguns segundos feitos eternidade, ao fundo um piano emitia o som aveludado de uma carícia...

... e de repente voltei...

Estava de regresso de uma viagem ao fundo de mar e ao centro de mim. Vinha rejuvenescida, regenerada e cheia de energia. neste momento apenas pensava que não sabia ainda o nome daquele rapaz que me ficara com o coração para cuidar... para sempre.

Era de noite, a Lua ia alta e eu sorri... a Lua também brilha no fundo do mar...

texto escrito para: Fábrica de Histórias


[2011/04/10]


Sea Dance 1 @olhares.com por João de Castro



Estrela do Mar - Jorge Palma


... nas ondas do mar, meu leal confidente, meu porto seguro.

Sinto o meu corpo nú ser areado, como se fossem tuas as mãos que seguram com firmeza cada pedaço de mim.
As ondas chicoteiam o meu corpo com arte e eu sinto-me de novo em tua posse, nos momentos em que, insana ou não, me entreguei sem medo às nossas loucuras.
Procuro apurar todos os meus sentidos, sinto o teu cheiro, tão único, quem o traz é a maresia, oiço os teus desejos ardentes no marulhar que me excita, e me entrego sem pudor às marés como se estas fossem o teu corpo nos movimentos desenfreados que juntos descobrimos e juntos explorámos.
Nado vigorosamente contra ti, num jogo de sedução que te enlouquece, procuras controlar-me mas finges não ter força para tal, até que, quando não aguentas mais o desejo dormente de me tocares, enches o peito de ar, e devassas o meu corpo como se te pertencesse, talvez porque de facto te pertença.
Viramos tudo do avesso, até as nossas almas, que rejubilam em êxtase como voyeurs das nossas fantasias, trocamos tudo, invertemos papeis, palavras e corpos, buscamos mais de dentro de nós que possamos partilhar, e nunca um mar antes se enlevou desta forma, virando tsunami sob um véu estrelado e um relógio parado.

Quero deixar-me levar nas ondas do mar bravio, só para poder sentir de novo o perder de todos os sentidos, entrar noutra dimensão, fugir para o lugar onde não damos ouvidos a nenhuma razão, e morrer por lá, sem precisar de renascer para te encontrar.
Porque tu estarás sempre no lugar mais alto, e no lugar mais lindo que existe no meu coração.

E aí nos amaremos cada vez mais,sempre e cada vez mais...

[2011/04/09]




MalmequerII @olhares.com por  Eliana Braga

Piece by piece - Katie Melua

... Bem-me-queres?

Se sim...  e eu sei que sim... vem até mim, escutar-te-ei, como sempre, de coração aberto...
E partirás, como sempre, mas mais leve e livre... para seres FELIZ!

Que as mais altas entidades te protejam e aquela Estrela te guie...

Tua...
[2011/04/07]

22:06


"Olhando o mar, sonho sem ter de quê..." Fernando Pessoa 

Os dias sucedem-se sem complacência, parecem já meses.
Desfiguram-se aos meus olhos como pedra atirada a um charco
que distorce e desfigura a imagem antes clara e definida
que me olhava e que via no meu espelho.
Procuro focar... não me encontro.
Espero, mas o meu espírito não se aquieta,
e quando a dor lancinante me sufoca num jeito trocista,
recolho-me e choro o destino deste Amor,
a incerteza que me invade e me põe à prova.
Não tenho armas que combatam a crueldade deste momento,
mata-me por dentro, cada dia mais um pouco...
... um sufoco.
Oiço, ou penso ouvir os sinais, subtis...
e fico mais baralhada,
nada faz sentido na minha cabeça cansada,
procuro respostas, recebo silêncio,
Sento-me à espera, mas cada segundo que passa,
transforma tudo numa farsa,
e o Amor que guardo cá dentro,
delicadamente... ainda espera...
Espera a cada novo dia,
a cada adormecer,
a cada barulho nas escadas,
a cada raio de sol,
a cada lágrima ou suspiro,
em cada onda do mar...
delicadamente,
como se estivesses quase a chegar...


[2011/04/06]


D'Eu
Sara Tavares - Muna Xeia

O nosso último silêncio foi muito intenso e prolongado. Lembras-te? - Disseste-me: "nunca tínhamos estado tanto tempo em silêncio". Sorri-te, embora tu não visses porque eu estava de costas, mas respondi-te que este nosso silêncio não era um silêncio silencioso ou vazio, mas um silêncio cheio de poesia. "Nem mais" - respondeste.
Durante todo o tempo que durou este silêncio, estive num lugar seguro, isento de problemas, desilusões ou frustrações. Senti a paz que vivias no respirar quente e pesado sobre o meu ouvido, enquanto os teus braços me enlaçavam docemente. "Não estou a dormir, disseste-me" - e eu sorri novamente... mas tu não viste.
Sabes o quanto desejei ter-te assim a cada acordar do dia? Sabes o quanto sonhei poder recorrer ao teu corpo daquele lado da cama quando acordo a meio da noite? Sabes como imaginei começar os nossos dias?...
E todos os silêncios entre nós eu queria que fossem como este. Contendo em si todo o sentimento do que é bonito de viver sem medos, sem culpas. Enquanto estivemos ali, enroscando os nossos corpos e sentindo o calor que esse contacto provocava, eu sonhei assim:

Vem tatuar na minha pele... a tua pele,
Vem desenhar o teu corpo a papel químico... sem papel,
Vem deixar-te em mim como se partisses,
E volta sempre sem nunca teres ido embora.
Aqui me encontras... sempre!

Vem devorar a poesia das palavras
Vem beber do sumo das nossas almas...
Vem escrever a sofreguidão das nossas letras,
Vem receber o amor com que me acalmas.
Aqui me encontras... sempre!

Vem entrelaçar os teus nos dedos meus,
Olhar-me fundo tocando o coração,
Vem ficar junto partilhando a vida
Num breve momento de solidão...

Esta é uma melodia... só nossa...
Aqui me encontras, sempre!

[2011/04/03]

17:49




Just taking a deep breath...

[2011/04/02]


imagem daqui
In the arms of the angel - sarah McLachlan

Venho contar-te um segredo. 

Quando se aproximam as noites que tanto temo, e chega a hora em que tenho de fechar os meus olhos ao Mundo, não me contenho. É nessas alturas que deixo que as lágrimas expurguem tudo o que vai cá dentro. Tudo o que a água do duche não foi capaz de fazer desaparecer pelo ralo. E quando finalmente as lágrimas embalam o meu sono para outra dimensão, eu reinvento os meus sonhos por concretizar, eu perdoo quem me magoou, mesmo sem saber, e perdoo-me a mim própria por alguns julgamentos fáceis em que incorri, movida pela pressão desta sociedade manipuladora da qual procuro fazer parte, sim, mas à minha maneira e tentanto não me deixar apenas levar na corrente. 

E venho aqui ter contigo, e aqui te encontro sempre. E aqui continuo a agradecer todos os dias por te ter conhecido. Tu não entendes muita coisa, mas eu também não sei explicar melhor. Sei que me entrego na plenitude do meu Ser, mas isso nunca parece ser o suficiente, mas não me arrependo. Onde estou só sei estar inteira. Tu ouves-me, e eu sinto-me bem. Depois passa, e eu sinto-me perdida. Vagueio pelos corredores da minha solidão como se esta pudesse ter um fim, mas percebo sempre que por muito que os meus passos acelerem, por muito que pareça estar a alcançar o fim, afinal era só e apenas mais uma curva no caminho. não desisto, porém... 

Quando penso que acordo, vejo-me menina, de olhar cheio de Esperança e Amor, encarando o Mundo da minha janela aberta e vendo sempre algo de bom, mesmo quando aparentemente nada era bom de facto. Quero de volta essa ingenuidade que a vida adulta tenta roubar-me... 

Afinal não tinha acordado, tinha apenas passado a uma outra dimensão de um mesmo sonho. Neste se misturam imagens difusas de uma menina, acho que sou eu mesma, correndo num labirinto de encruzilhadas, primeiro com um sorriso estampado no rosto e uma alegria imensamente infantil, mas depois, subitamente, deixando-se tomar por uma expressão facial de angústia, medo e dor, motivada pelas tomadas de decisão a que era obrigada cada vez que o caminho se desmultiplicava em mil direcções. 

Acordei, agora sei que acordei, em sobressalto, com mil cavalos no lugar em que eu julgava devia estar o meu coração, batendo a compasso. Subi apressada às águas furtadas como se à minha espera estivesses tu, para que eu pudesse apaziguar a minha alma com o meu olhar. Lá estavas tu, sentado , encarando a lua cheia numa noite morna. Aproximei-me de ti, e inexplicavelmente tomei o teu lugar, tornando-me tu próprio em mim. Diz a ciência que dois corpos não ocupam o mesmo espaço, mas eu não sou de ciências, sou de letras. Como tal eu digo, dois corpos podem ocupar o espaço de uma única Alma. 

Onde quer que estejas eu estou contigo... e esse é o segredo!

Texto escrito para : Fábrica de Histórias

[2011/04/01]