A Torre de Babel (1563), Pieter Bruegel

Trapézio - Jorge Palma

Tristes daqueles que do alto da sua presunção julgam ter o mundo a seus pés. Vão subindo sem olhar a meios, cegos para os demais, intocáveis. Mas no fundo, na realidade, erguem castelos feitos de barro e que uma chuvada mais intensa depressa leva por terra. Pode até levar o seu tempo, mas nas construções da mais apurada engenharia, como no carácter de cada um e na forma de se relacionar com os outros, são os alicerces o ponto fundamental, a base de sustentação de um edifício, ou de uma relação. 
Humildade, palavra desconhecida de tantos e que leva tantos outros no caminho certo, embora talvez mais demorado, mais duro, mais exigente, mas tão mais compensador. Quem não conhece a humildade conhece bem o orgulho, a soberba. Querer ser bom, ou o melhor não é só por si um defeito, se houver humildade. 
Acredito por isso que tudo o que construí, e que aos olhos dos que constroem torres de Babel é nada, são os alicerces mais sólidos e não corrosíveis que a minha ingenuidade e, no entanto, perseverança, se orgulham de ter construído. Poderei não ter passado ainda dos alicerces, é verdade, mas não tenho pressa de chegar ao topo, não antes de ter aprendido a voar melhor...

Escrito para: Fábrica de Histórias

[2012/04/29]






Vamos, meu amor ?? :))

[2012/04/24]

23:33


Rosana - A fuego lento


Em abril da minha alma somos conquista e celebração.
Ressurgimos da névoa invernal, infernal, juntos. É a nossa revolução, positiva.
Crescemos, aprendemos e vivemos mais intensamente que nunca o que de nós brota de uma forma tão pura.
Como a flor de Lótus, enlevamo-nos espiritualmente e desabrochamos o nosso amor renovado nesta primavera. É mais um passo, mais um degrau que na escadaria dos afectos subimos.
Deixamos para trás a escuridão que nos ensombrou os dias, e vivemos o abril em nós. Momentos, eternos momentos de cumplicidade que renovam esperanças perdidas e reforçam os laços criados por algo maior.
Abril é cor, é vida, são todos os elementos da  natureza em convivência mais ou menos harmoniosa. Abril é sinónimo da purificação do corpo e da mente, da superação dos nossos medos, das nossas dúvidas, é um nascer ou renascer com uma beleza mais lúcida. Abril tem o som dos kissanges e as fogueiras acesas nas noites de luar num fogo lento delicioso, tem borboletas na barriga e em volta das flores, arco-íris, tesouros e andorinhas.
Abril tem amor no azul do céu, paixão no vermelho das chamas, e esperança no verde dos campos.
Abraça-me em abril da minha alma, e beija-me na melodia que nos embala, ama-me simplesmente porque …

… é abril…


[2012/04/22]


Mafalda Veiga - Era uma vez um pensamento teu


O instante de ouvir a voz de quem se ama pela primeira vez, só é comparável à teoria do caos, ao efeito borboleta. Pelo menos foi este o pensamento que me aflorou à mente assim que a ouvi do outro lado do telefone. Na verdade, milhares de borboletas coloridas invadiram a minha vida nesse momento, entraram na minha alma e dançaram danças de pura felicidade, aumentando exponencialmente o batimento do meu coração. Se isto acontece, então fica mais fácil perceber também o que à partida nos pode parecer absurdo: o bater das asas de uma borboleta num lado do mundo pode originar um tufão do outro lado.
E aquela voz foi poesia nos meus ouvidos, foram melodias que me embalaram num transe que me congelou o pensamento, permitindo-me apenas sentir... 
Claro que subjacente à voz estava também a lembrança, a atitude, e essa ficará para sempre tatuada na minha alma como o momento em que se desarmam barreiras invisíveis, em que se deixam cair as máscaras, mesmo que por detrás de um telefone. 
Sabes exactamente como me levar ao estado de sublimada, e ao teu jeito, o momento exacto para usares do teu poder de cativar, do teu charme, da tua verdade, para me fazeres sentir amada e desejada sem estares constantemente a repetir as mesmas coisas [como eu] - tento aprender contigo. 
Este tufão dentro do meu peito, originado por um simples telefonema teima em não passar, e eu sinto-me planando nele como plano em ti quando estás presente, e ainda agora... 

Sem agradecimentos porque assim mo pediste... mas com todo o amor do mundo...

[2012/04/16]


Azeitonas - Anda comigo ver os aviões


Aos poucos fui entrando no universo mágico da aventura. Aprendi a soltar-me das grilhetas sociais que nos castram as emoções, e aprendi, que no jogo do certo e do errado há sempre forma de dar a volta ao texto e de interpretá-lo a nosso gosto.
Aprendi até que são as pedras do caminho que fazem com que este seja intenso e motivo de orgulho de ser vivido a cada obstáculo transposto, ora por superação, ora por aceitação, crescimento, sabedoria.
Aos poucos fui-me libertando e ao mesmo tempo fui encontrando um Eu que vivia enclausurado dentro de mim, que ansiava por alguém que destravasse a loucura e desse sentido a este meu lado mais irreverente.
Contigo, a vida é uma aventura constante, cheia de adrenalina e emoções, sempre nos limites e nos extremos, naqueles lugares que nos acordam para a vida por nos deixarem à beira de abismos, cordas bamba, trapézios sem rede. Contigo existem sempre cem cavalos a galopar no peito e uma vontade incontrolável de levantar voo. 
A aventura começa em cada novo dia que me presenteias com a tua luz. Irradias uma luz que me cativa, que me faz querer usufruir de ti, da tua alma, do teu corpo, da tua essência mais pura. Sejam as nossas partilhas espirituais, as carnais e até as mais banais (contigo nunca nada é banal), em qualquer troca de energia, contigo tudo é tão mais elevado, mais intenso.
Poucos chegam onde nós chegamos, mas isso não nos torna melhores que ninguém... apenas diferentes.


Aventura, quero sempre uma nova aventura contigo... Aventuras-te?


[2012/04/07]

23:13



Train - Drops of Jupiter


Trocaste-me os hemisférios e já não sei do meu Norte. Cruzaste o meridiano dos meus sentidos ao ponto de deixares baralhados os meus pólos. Magnetizas-me de tal maneira que todos os meus movimentos são na tua direcção e no sentido do teu desejo que não é mais do que o meu desejo. Enlouqueces-me tanto a Sul quanto a Norte, de dia como de noite, porque me vendaste para que não conhecesse o tempo. E eu não quero o tempo que me limita, eu só quero o instante perpétuo de ser tua bússola, de te guiar por caminhos em que te queres perder, para te encontrar nos triângulos misteriosos que nos apagam dos radares.
Quedo-me entregue ao teu íman, pedindo-te apenas que traces todos os teus percursos no meu corpo, na minha pele branca, como quem em desespero marca os dias para não enlouquecer, para manter a sanidade que só se releva na entrega das nossas almas sem gravidade...
Tu, que mexes com o centro da minha gravidade e o deixas completamente desorientado, que me tomas o pulso com ímpeto e voluptuosidade, me castigas o corpo e me acaricias a alma. Tu que me entregas os teus segredos para eu cuidar e o teu corpo para eu amar. Tu, que me deste a tua alma para viver junto da minha, e me mimas com tanta intensidade, em todas as diferenças e mais nas igualdades...

Tu...  quero morrer no teu abraço... eu amo-te, simplesmente...

[2012/04/03]

Moulin de la Galette (1889), Toulouse-Lautrec

Chico Buarque - Valsinha

Em dias que nascem sob o véu de baile, Amélia fica particularmente nervosa. Espreita pela janela com aquela curiosidade jovial de quem quer ver as damas cruzarem a praça em frenesim, umas dirigindo-se à modista e outras vindas do salão de cabeleireiro de onde saiam com algumas obras de arte na cabeça. Também ela sonhava, de algum tempo a esta parte, com o dia em que todos parariam para olhar para ela, impecavelmente vestida e discretamente penteada, mas bonita, sobretudo, muito bonita, entrando no salão de baile onde, porventura, encontraria a sua cara-metade. 
Tinha 15 anos, e Amélia era já uma jovem vistosa, mas simples. Simplesmente vistosa, naturalmente bonita. Os pais tinham-lhe prometido que a levariam assim que ela fizesse os 16 anos, numa espécie de debute, apesar de toda a gente da vila a conhecer.
Faltavam apenas duas semanas para que completasse os 16 anos e se cumprisse um sonho, hoje ainda não era o dia. Nesse sonho existia também Bruno. No entanto Amélia teria de aprender a separar os sonhos, já que não existia a mínima possibilidade de Bruno poder estar presente no salão de baile... a não ser como engraxador, talvez... 
Amélia vivia este sonho, o seu primeiro amor, completamente sozinha. Não tinha sido capaz de o confessar sequer à sua melhor amiga. Parecia-lhe algo tão íntimo, tão seu e ... tão passível de ser motivo de crítica e desdém, que não sabe se por vergonha se por pudor, não falava sobre o assunto com ninguém. Porém no seu íntimo havia uma pessoa que ela acreditava ter já percebido o seu sentimento - o próprio Bruno. Este, quando passava por ela na rua, lançava-lhe um sorriso que era de cordialidade mas que transmitia algo mais, acompanhado de um olhar especial, e ela corava sempre enquanto a mãe a puxava disfarçadamente como que dizendo que ela tinha de apressar o passo. 
Amélia pensava em tudo isto enquanto olhava do alto da sua janela sobre a praça...

Duas semanas passaram rapidamente. Agora o frenesim era pelo seu aniversário, pelo debute e pelo baile, tudo junto num só acontecimento. Sentia-se muito importante e com uma responsabilidade acrescida naquele dia. Não podia desiludir os pais, na verdade já o tinha feito ao sugerir que Bruno, o filho do sapateiro da vila, fosse convidado, mas ela não podia deixar de tentar, apesar de estar ciente de que os pais jamais permitiriam. Apesar de obediente e educada, Amélia estava também na idade de todas as descobertas, e até da descoberta das pequenas mentiras que não trariam prejuízo a ninguém e apenas serviriam para contornar aquela austeridade dos pais. Ela simplesmente precisava de Bruno na sua festa de aniversário, e ia conseguir.
Pediu a um garoto insuspeito que lhe entregasse um bilhete e que em troca do seu silêncio lhe oferecia um sorvete, daqueles deliciosos do sorveteiro da praça. Ele assim o fez, com um sorriso maroto no olhar.
À noite, Amélia estava particularmente excitada com tudo o que se iria passar e curiosa por ver como estaria o salão, como estariam todos os convidados. Ela levaria um vestido branco, como era típico nas debutantes, mas com um corte muito elegante e distinto. Entrou no salão pelo braço do pai e tal como ela tinha sonhado, a sala inteira parou para vê-la entrar. A festa decorreu sem percalços, a primeira dança com o pai que babava de orgulho e depois com alguns dos jovens promissores da vila, mas que nem um pouco faziam palpitar o coração de Amélia. Essa pessoa especial, se tudo corresse como ela esperava, estaria na ante sala, e era para lá que ele se dirigia quase às escondidas. E assim foi. Abriu a porta e do outro lado estava um Bruno envergonhado mas impecavelmente vestido, não ficava a dever nada aos emproadinhos do outro lado do salão de baile.
Estendeu-lhe a mão, ela aproximou-se e começou a dança... ao lado do salão de baile...

Escrito para a Fábrica de Histórias

[2012/04/01]