Não tenho hipótese! Às 6 horas da manhã sou literalmente posta fora da cama, pela própria. Não lhe interessa se me apeteciam mais dez minutinhos de ronha, não se compadece com o facto de mal ter dormido, nada mais lhe importa senão tirar o peso do meu corpo de cima de si. Os blackouts nas janelas correm deixando entrar no quarto a claridade de um novo dia que amanhece.

Contrariada, cambaleio até à casa de banho onde o duche já corre. Sabe-me bem ser massajada pela água tépida nesta manhã tão igual a tantas outras. Tlim... abro a pestana, que até agora apenas se mantinha semi-aberta. Mas que dia é hoje? Hoje não trabalho, estou de férias! Mas que droga esta de tecnologia que não adivinha que estou de férias e que podia ficar não apenas mais dez minutos mas a manhã inteira na cama se assim me apetecesse. Terminei o duche e dirigi-me ao quarto deitando um olhar fulminante à cama que parecia rir-se de mim.

Bom, já que estava acordada mais valia aproveitar o dia!

Fui para a varanda saborear a minha torrada e o meu sumo natural de laranja. Sou uma mulher moderna sim, mas moderna de espírito, não compactuo com estas invenções de tomar umas pastilhas que substituem os alimentos, e eu que até nem sou grande admiradora da cozinha, cada vez mais me rendo às suas maravilhas.

Olho a cidade que se movimenta lá em baixo, frenética, impaciente, mal-humorada. Comprei recentemente um filtro que permite que o ar aqui na minha nuvem seja mais respirável. A verdade é que com todos os avanços tecnológicos não fomos capazes ao longo dos tempos de acabar com os poluentes, isso seria um grande rombo no negócio de tantos que não se preocupam com o bem estar do planeta. Não há bela sem senão e então estamos assim, ainda muitos poluentes são lançados na atmosfera, embora já tenha passado o tempo em que tínhamos de andar de máscara na rua.

Olho para trás e vejo que afinal de contas não evoluímos assim tanto. Ou pelo menos não soubemos evoluir. A evolução não contém em si, ou não deveria conter, uma total perda de personalidade, de ideais. Sim, podemos evoluir mas sem perder o que temos de tão bom.

Acordei um dia num Mundo que tinha perdido a sua identidade à custa sabe-se lá de quê. Uma espécie de "revolução industrial" dos tempos modernos, ou seja, uma "revolução tecnológica". Sim, foi benéfica para muitos sectores, mas o Ser humano nunca para, quer sempre mais. A dada altura as pessoas deixaram de socializar, viviam cada um para seu lado e mesmo dentro da própria família cada um tinha o seu próprio mundo, onde uma tv e um computador eram tudo o que necessitavam. Perdeu-se o hábito de conversar, as pessoas foram-se esquecendo do uso da palavra, e até a escrita foi sendo substituída por códigos de simples utilização.

Entrei em depressão. O que estavam a fazer a este mundo, o que estavam a fazer às pessoas, eu não podia aceitar que isto acontecesse. Sim, eu gostava de tecnologia, do que ela me podia oferecer, mas com conta, peso e medida. Também quero conversar, rir, passear e almoçar em família e com amigos, não quero ser um Eremita dos tempos modernos. Foi um susto muito grande.

Era ali, na minha varanda sobre a cidade, que todos estes pensamentos me corriam na mente. Senti-me feliz por ter ido viver para uma nuvem. Não me considerava uma pessoa snob ou mesquinha, mas o que é facto é que prezava acima de tudo o bem estar e algumas das preciosidades que o antigamente me proporcionava e por isso faço tudo por perpetuar lembranças e hábitos ou costumes. Só na minha nuvem sobre a cidade isso é possível, e quando saio da minha casa e entro no meu carro voador, movido a energia solar, sorrio enquanto olho para o retrovisor e penso nos dias em que demorava 2 horas no trânsito para chegar ao trabalho num para/arranca infinito.

Hoje sou feliz!

Vivo num futuro só meu onde recebo de braços abertos todos que me queiram acompanhar e se comprometam a não desvirtuá-lo.

Obrigada passado por me ofereceres este futuro...

Texto escrito para: Fábrica de Histórias

[2011/04/17]

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6 Responses to "Um dia no Futuro"

  1. ana p Says:

    Andas escrevendo muito Nat....
    E bem...
    Beijo

  2. Unknown Says:

    Mag, já tinha saudades tuas :)

    Tenho pena de já não poder deixar uma palavrinha lá no teu canto, a Sul, mas quero que saibas que continuo a deliciar-me com as tuas escolhas.

    Muito obrigada pelas tuas palavras, escrever de facto liberta-me :)

    Beijo

  3. Ivete Says:

    Natacha, simplesmente adorei teu texto!Acho que eu já vivi tanto de passado que nem consigo imaginar o futuro, eh,eh... Mas tu te saíste muito bem. Grande imaginação! Parabéns!

  4. Unknown Says:

    Ivete,

    Saíu assim ao correr da pena hehe por acaso acho que a imaginação não é o meu forte, mas vou trabalhando um pouco nisso :)

    Obrigada, beijinhos

  5. Moon Dreamer Says:

    Ora aqui está uma fantasia deliciosa.
    Isso é que foi andar verdadeiramente com "a cabeça nas nuvens"!!! :)

    Adorei passar este bocadinho no futuro. Obrigada.

    Um beijinho

  6. Unknown Says:

    Moon Dreamer,

    Muito obrigada :) Fico mesmo orgulhosa de ouvir as tuas palavras, palavras de quem tão bem sempre nos leva nas asas da fantasia. Pensar que por instantes consegui também levar-te :) é muito bom!

    Um beijinho

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