Este era um ano de grandes mudanças na vida de Carlos. Jovem adulto que teimava em não querer crescer. Era o que entre amigos se designa de "palhaço", mas sem qualquer carácter ofensivo, apenas porque era impossível não rir com o que quer que fosse que Carlos dissesse. Ainda que falando de um assunto mais sério, a forma como o fazia era só por si engraçada. Era um contador de histórias, engraçadas, ou que ele transformava em engraçadas e até de algumas desgraças nós rimos em grupo. Impossível estar-se mal disposto ao lado de Carlos.
Estava de mudança para um novo apartamento. Vivia ainda com os pais, pessoas simples, algo ingénuas, de tal forma que também elas muito engraçadas. Era domingo, e como sempre o café era o ponto de encontro. Vi entrar o Carlos com o seu ar meio alienado e sorri, o que nos traria hoje? Já vinha rindo o que motivou em nós uma enorme curiosidade.
- Então Carlos, já vi que trazes algo na manga - disse-lhe.
- Ele ria e ia dizendo - epah, os meus velhotes são o máximo - e ria que não conseguia parar.
- Mas o que foi - insistimos - já ríamos e ainda não tínhamos ouvido a história, e Carlos prosseguiu.
- Hoje começamos a mudança para o novo apartamento e eu disse à minha mãe que o elevador era inteligente e que bastava nós dizermos o andar em que morávamos que ele começava a andar.
Conhecendo a dona Cândida como conhecíamos, todos começamos logo a imaginar o que lá vinha, e Carlos continuou:
- Passei-lhe uns sacos para a mão e fiquei a vê-la dirigir-se ao elevador. quando lá entrou, ouvi-a dizer muito convicta : - sétimo esquerdo! Como o elevador não se mexia e ela continuava - Sétimo esquerdo! - Carlos ria agora que nem um perdido e todos nós com ele!
- e depois? - perguntámos.
- Depois saiu do elevador e disse-me com um ar muito triste: - está avariado, como vamos levar agora tudo até ao sétimo andar??
Pronto, foi a risada total. A partir daí o sétimo esquerdo ficou famoso. Só a dona Cândida para achar que o elevador para além de nos ouvir, ainda discernia o esquerdo do direito...
Baseado em factos reais (meados dos anos 90) e escrito para Fábrica de Histórias