“ Existe uma Lenda acerca de um pássaro que só canta uma vez na vida, com mais suavidade que qualquer outra criatura na terra. A partir do momento em que deixa o ninho, começa a procurar um espinheiro, e só descansa quando o encontra. Depois, cantando entre os galhos selvagens, empala-se no acúleo mais agudo e mais comprido. E, morrendo, sublima a própria agonia e solta um canto mais belo que o da cotovia e o do rouxinol. Um canto superlativo, cujo preço é a existência. Mas o mundo inteiro pára para ouvi-lo, e Deus sorri no céu. Pois o melhor só se adquire à custa de um grande sofrimento… Pelo menos é o que diz a lenda (…)”
Francisca não conseguia parar de soluçar, chorava todo o choro contido que lhe apertava o peito e fazia doer o coração. No escuro da noite, no silêncio da sua solidão, deitada na sua cama, eclodiam gritos mudos, soluços profundos de incompreensão. Tanto amor no seu coração!
De nada se arrependia era um facto, sentia-se das pessoas mais ricas pela oportunidade de usufruir da presença e até do amor de alguém tão especial, porém na sua cabeça o eco repetia-lhe vezes sem conta: “Mas porquê? Porquê?”
Francisca recordava bem o dia do primeiro encontro, uma sintonia sem precedentes, tudo tão naturalmente certo, tão alegadamente transparente. Estava feliz, fazia alguém feliz e nada mais importava. Vivia o momento, não queria saber de mais nada, despiu-se completamente perante ele, não só da roupa, mas pôs a descoberto a sua alma, declarando-lhe o seu amor incondicional… esse amor que permanece.
Francisca sempre achou que era acreditando nas pessoas que lhes provava que valia a pena ser-se sempre verdadeiro. Uma das suas frases mais repetidas era: “eu cumpro o meu papel: acreditar nas pessoas que permito que entrem na minha vida. O teu papel é seres-me sempre verdadeiro. Quando assim não for, não fui eu que não cumpri e a minha dignidade e a minha cabeça continuarão sempre erguidas”
Naquele dia, Francisca não pôde conter a pergunta e em jeito de introdução disse-lhe:
- Meu amor, sinto o teu amor, sinto esta nossa inexplicável empatia, porém sinto que existe um lugar em que não consigo entrar, sinto que em determinado contexto da tua vida eu não tenho espaço, eu não pertenço”
Ele engasgou-se, hesitou, mas ainda assim lhe disse:
- Existe uma coisa que te queria dizer acerca da minha vida, mas tenho evitado para não estragar estes momentos tão especiais que nos unem…
- Diz-me Pedro, peço-te. Eu sei que há algo e só não sei definir o que é. Diz-me, porque eu aceito tudo porquanto sejas verdadeiro.
- É só uma relação que eu tenho, respondeu ele baixando o olhar mas desvalorizando o assunto e, inconscientemente, espetando uma faca no coração de Francisca que agora sangrava incessantemente.
Este foi o momento crucial. Francisca tinha agora a decisão nas suas mãos. A partir deste momento e depois de uma conversa de horas, estava nas mãos dela a decisão de permitir que esta “relação” continuasse, ou colocar, ali mesmo, um fim numa “relação” que não tinha qualquer futuro.
A encruzilhada que ninguém deseja enfrentar. A escolha era entre ter momentos felizes, amar e ser amada, ou libertar-se para a possibilidade de encontrar alguém que a quisesse a tempo inteiro, que a amasse na plenitude, que quisesse conviver com os seus inúmeros defeitos e usufruir das suas qualidades. Alguém que desejasse vivê-la, usá-la, amá-la, que sonhasse alcançar sonhos conjuntos, como observar aquela mesma estrela que os uniu.
Mas falamos de amor. Como se nega um amor? Como não acreditar perante as energias trocadas a dois que o amor, este que os unia, não fosse tão maior que permitisse mudar o curso daqueles dois caminhos, tão diferentes, tão iguais!?
Não foram feitas promessas, não foram feitas cobranças, mas Francisca disse-lhe:
“Assim como os jardins, também o amor tem de ser regado para florescer, para se manter viçoso, bonito. Aceito-te, porque te amo, mas sei que um dia tudo pode mudar, enquanto eu me sentir bem contigo, aceito-te”
E abraçaram-se e emocionaram-se e aceitaram-se.
E assim se confirma a Lenda celta…
“ (…) O pássaro com o espinho cravado no peito segue uma lei imutável impelido por ela, não sabe o que é empalar-se, e morre cantando. No instante em que o espinho penetra, não há nele a consciência do morrer futuro; limita-se a cantar, e canta até que não lhe sobra vida para emitir uma única nota. Mas nós, quando enfiamos os espinhos no peito, nós sabemos, compreendemos. E assim mesmo, fazêmo-lo.”
Prontos?
Estão prestes a submergir num mundo onde as emoções estão à flor da "pena". Onde as palavras discorrem sem grilhetas e as exclamações e interrogações não são meros sinais de pontuação, mas sim manifestos movimentos de inspiração e expiração, essenciais à continuidade de uma viagem que se quer intensa, genuína e infinda. O mergulho é inevitável, o convite irrecusável, o ritual de conquista à prova de qualquer mente mais retraída - sigam-me!
Este não é o livro para quem pretenda apenas ocupar o espaço que lhe resta em aberto na estante. Este não é um livro que se leia e se arrume na prateleira. Este livro é um livro sempre aberto, desfolhado vezes sem conta, de páginas gastas e de cheiros característicos. Tem páginas com cheiro a flores, tem outras com cheiro a lágrimas, numa ou noutra caíu um pingo de café, e quase no fim existe até a marca de um cigarro, para já não falar das pratas dos bombons que vão marcando algumas das páginas mais especiais. Usem-no bastante, jamais o arrumem numa caixa e nem mesmo o deixem a enfeitar aquela estante, vendam-no antes, ou ofereçam-no, mas providenciem para que tenha sempre algum sentido, (porque só sendo lido e relido um livro faz sentido), para que faça sempre a diferença a alguém porque este é, de facto, um livro diferente.
Um livro sem capa e cheio de conteúdo. Sem capa porque a capa é como um rosto ou um corpo e pode gerar preconceitos. A capa, peço-vos, criem-na vós após a experiência, a vivência. Que ela seja o retrato do que este livro significou e, estou certa, surgirão muitas capas, muito diferentes e todas elas representativas do sentir de cada um.
Ao virar esta página, não há regresso, este é o tempo, a hora exacta da decisão de seguir em frente ou parar por aqui. Para seguir em frente é necessária coragem, pensem bem. Parar por aqui é fácil, muito fácil. A escolha é vossa.
O meu livro está aberto, o convite apresentado. Espero-vos, para juntos vivermos emoções que alguns porventura nem conheciam.
Este é o meu livro...
Corri o mais que pude, esgotei o fôlego, perdi o norte e nem saí do lugar...
Mas cheguei, cheguei ao alto, ao ponto mais alto, por dentro.
Precisava com urgência de escutar o som do vento, bramindo gemidos de prazer, como um arrepio pela espinha.
Tinha sede de lua e fome de estrelas.
Todos juntos entoavam belíssimos cânticos que mais ninguém parece entender.
Fiquei em extâse, absorvendo, escutando os diálogos elevados da noite.
Não tenho medo, o escuro não me atormenta.
Espreguiço o meu corpo cansado como quem dança em honra dos céus, e recebo de volta o sopro que me conforta e diz: Todos os pássaros sabem voar!
Foram noites sem fim até aqui...
Um passo em frente nesta longa escadaria rumo a um sentimento de concretização pessoal. Sou, na minha essência, a mesma... mas visto-me mais de acordo com uma filosofia que é minha, que tomo como minha. Aquela que me autoriza a errar, a arriscar, a ser uma mente aberta, a pagar preços altos pelo que, para mim, faz todo o sentido... momentos de felicidade! Tatuagens... tudo o que de alguma maneira me marca profundamente, estará aqui presente. Palavras, melodias, cheiros, cores e sabores Obrigada por me seguirem, por me marcarem!