23:39


Seal - Stand by me

Faço colecção de noites. Não existe uma que seja igual à que a precedeu, são todas diferentes. Umas mais escuras, outras mais estreladas, umas são frias, outras há que são encaloradas, outras ainda são amenas. Com brisas, sem brisas, noites tristes ou com alegria, mas de uma coisa não tenho dúvidas, todas e cada uma delas são cheias de magia.
Guardo-as em frascos na minha memória, e visito-as invariavelmente nos dias mais difíceis. Tenho noites de todas as cores da paleta e de todas as emoções do meu coração, mas tenho um frasco que permanece vazio...

Amo a noite, é por ela adentro que deixo os meus dedos falarem as palavras que me nascem na alma, é pela noite adentro que faço amor sob as estrelas em cama de sonhos. O abraço da noite entra-me na epiderme e  a sua energia percorre-me as veias e aflora na pele em forma de arrepio. 

Há noites que ainda não vivi, mas que trago na minha memória como um futuro saudoso. Têm sido dias tão intensos, que tenho aproveitado para vivê-los em pleno, talvez descurando um pouco as minhas noites. Outras noites inventei-as, não gosto da rotina ou do convencional, e por isso invento noites para mim, noites que me vestem a pele à medida. 

As noites para serem perfeitas não têm de ser iguais, noite após noite, pelo contrário. As noites perfeitas são as diferentes, tal como disse no início. Existe no entanto um ingrediente indispensável para uma noite perfeita, não existe no entanto a palavra perfeita para explicar qual é esse ingrediente porque não é nada palpável, não é tangível, apenas se pode sentir. Chamar-lhe-ei: morna-aragem-que-me-enche-a-alma-e-me-faz-sentir-viva! E, atenção, não é necessário estar na rua para sentir esta aragem, eu sinto-a bem dentro das minhas quatro paredes.

Foi por uma dessas noites adentro que me chegaste, sem eu esperar. E logo aí, a noite se encheu de dourados e a aragem nasceu cá dentro de mim, permitindo que as borboletas levantassem num voo nocturno único e inimaginável, provocando dentro do mim o perfeito caos. Misto de excitação e receio recheados de uma alegria inexplicável. Desde essa especial noite, muitas outras se passaram, nem todas tão mágicas assim, houve espaço para o cinzento e para as noites chuvosas de lágrimas salgadas, fazem parte eu diria, para um crescimento e um melhor entendimento da teoria da noite.

Sabes que te amo, todas as noites, não sabes? Todas as noites, desde aquela especial noite eu te amo no meu jeito próprio de amar, e guardo o frasco vazio, na esperança, que por mais que eu queira não me abandona, de guardar uma noite que não seja só minha, mas nossa...

Fica comigo... 

Escrito para: Fábrica de Histórias

[2012/05/27]


Agarrado a ti, vou sem hesitar, e se o chão desabar, que nos leve aos dois...


[2012/05/25]

23:56


Pedro Abrunhosa - Pontes entre nós


Depois, nada se extingue com a partida. [é assim que cantam as chamas dentro do meu peito]
No depois acendem-se de novo as ausências, como se em permanência me quisessem castigar - sorrio-lhes! - Porque não é disso que se trata.
Depois, chegas de novo e deixas-me continuar a sonhar. Para sonhar, embalo-me na tua pele como se quisesse os teus sonhos a papel químico no meu corpo. Sonha comigo os mesmos sonhos para que depois, retornemos ao plano das emoções longínquas, de todas as estradas que nos separam e de todas as pontes que existem entre nós.
Depois, retiro-me no odor inebriante do teu corpo e perpetuo o teu abraço de alma. E os meus olhos sorriem o sorriso mais puro da sintonia. É sempre assim, depois.
E depois, queima-se-me o corpo, arde-me a pele da falta e dentro do coração todos os pássaros acordam e levantam voo, e as veias que me riscam o ser quase desatam a chorar. [é assim que o sangue me corre cá dentro]
Depois, fico eu. [a tua...]
Depois, ficas tu. [o meu...]

Para sempre, depois...

[2012/05/11]

23:46





De ter a ser...


Eu lembro-me de quando apenas tinha mãe e ainda não era. Esses tempos, não tão longínquos assim, eram bem mais fáceis, limitava-me a ter mãe e a ser filha dela. Usufruía de uma cumplicidade subliminar, disparatava como só eu sei, reclamava dos pontos de vista mais sensatos por não encaixarem no meu espírito irreverente.
Hoje sou mãe, e este é um papel muito mais difícil, porque me obriga a domar a minha irreverência, indo ao encontro, afinal, do que me dizia a minha mãe, e por outro, tenho, graças a Deus, a minha mãe para me relembrar isso mesmo!
Sempre fiz valer os meus pontos de vista e os manifestei de forma assertiva, cheia de certezas. As certezas depressa se esvaíram quando tomei pela primeira vez o meu filho nos braços: não havia volta, e agora?
Filhos não trazem livro de instruções anexo. São seres únicos, enigmáticos que vamos lentamente descodificando, até percebermos a personalidade que trazem consigo. 
Educação, a mãe educa, a mãe cuida. Certo, errado? No ser mãe vale essencialmente o instinto, o instinto protector sobre um ser que durante uns anos é totalmente dependente de nós, que precisa do nosso apoio, do nosso incentivo, do nosso amor. Ser mãe é ter a capacidade de encaixar um "és a pior mãe do mundo" quando contraria um qualquer capricho, ou a capacidade de se levantar da cama às 4 da manhã para ir ouvir um "Adoro-te mãe". Ser mãe, é sorrir quando nos apetece desabar em pranto, fazer cara feia quando nos apetece rir à gargalhada da piadola do garoto. É manter a calma quando eles estão doentes e dizer que vai passar, quando eles dizem que nunca vai passar.
Ser mãe é apaixonar-se todos os dias pelo mesmo ser, é calar para proteger, é agir para proteger, é tomar cada decisão pensando em primeiro lugar no filho. Mas mais importante, ser mãe é não deixar de ser mulher, e isso também para proteger o filho.
Ser mãe, é lutar todos os dias por ser melhor, é dizer não quando é preciso e mais que isso, é manter o não até ao fim. Ser mãe é deixá-los ir, vê-los aprender a voar e depois deixá-los ir, e esse treino deve começar desde cedo...


Ser mãe é para sempre, e mais além... e é tão BOM! E ter mãe também! :)


Um Obrigada imenso para a minha ...


Escrito para: Fábrica de Histórias


[2012/05/06]