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Ronan Keating, Yusuf - father and son

João estava super entusiasmado no recreio da escola, não parava de dar gritinhos de alegria enquanto exclamava: "hoje é dia de pai, hoje é dia de pai!" Os amigos e companheiros de bola, olhavam para ele sem conseguir evitar rirem também dos disparates que João ia fazendo à medida que continuava a lenga-lenga sobre o dia de pai.
Tinha passado a manhã agitado e a professora tinha tido que chamar-lhe por variadas vezes à atenção. A determinada altura optou mesmo por pedir a João que saísse da sala de aula para lhe levar um recado a Patrícia, a funcionária da secretaria. Enquanto ia e vinha, João acalmava, e assim os colegas podiam também estar mais concentrados.
No almoço, o entusiasmo de João contrastava com a manifesta falta de apetite. Estava irrequieto, mas mais do que isso, estava inquieto. A professora já se tinha apercebido do que motivava tanto nervoso, um misto de ansiedade e alegria, hoje era dia de pai.
Alguns meninos aproximaram-se da professora para lhe manifestar que João não estava bem, só fazia e dizia disparates e ninguém podia já aturá-lo. A professora pediu-lhes para terem paciência, que o João estava a passar por um momento difícil e que ia necessitar muito da ajuda dos que realmente eram seus amigos. Três ou quatro caras de meninos e meninas de 8 anos fixaram a professora como quem procura significado para aquelas palavras. Reparando nisso, e sempre atenciosa, a professora Alice disse-lhes: - O João vai ter hoje o seu primeiro dia de pai.
- Oh professora, exclamaram alguns deles em conjunto - não é nada! O dia do pai é só em 19 de março e ainda estamos a 9. Ainda nem sequer terminamos os presentes que estamos a fazer.
A professora voltou a sorrir e pacientemente lá lhes explicou: - Não é disso que estou a falar. Hoje é o primeiro dia que o João vai ficar na casa do pai, depois da separação. Vocês sabem que os pais do João se separaram, não sabem?
- Sim, responderam em uníssono, assumindo desde logo um ar algo consternado.
- Então agora percebem a ansiedade do João?
- Sim, professora, mas é muito triste não é?
- A professora pensou por uns instantes e disse: não tem de ser triste, mas sim, para o João vai ser sempre um misto de tristeza e de entusiasmo. E daqui para a frente ele terá muitos dias de pai, talvez mais do que antes da separação, disse sorrindo. 
Nesse preciso momento João acerca-se da professora e diz-lhe: - professora, dás-me um abraço?
- Claro, meu menino, vem cá. - e acolheu nos seus braços aquele menino perdido num misto de sentimentos demasiado confuso para a sua capacidade de gestão emocional. - deves estar feliz, hoje é dia de pai, disse a  professora enquanto lhe piscava o olho.
E ele, tentando piscar-lhe também o olho, mas fazendo ao invés disso uma careta disse: Sim, professora, estou muito feliz! -enquanto uma lágrima lhe rolava na face...


Escrito para: Fábrica de Histórias


[2012/03/18]

4 Responses to "Dia de Pai"

  1. sgar Says:

    Ui, sou sensível a este texto, sou sensível, sou... Ok já percebeste... gostei da parte que ele iria ter talvez mais "dias de pai" do que antes :) bem verdade, muitas vezes, infelizmente.... Um beijinho (assim com lágrima teimosa a querer sair!)

  2. Unknown Says:

    :) Agora imagina eu, Sónia... como sou sensível à "história" :)

    venham daí as lágrimas que nos lavam a alma!! :)

    beijinhosss

  3. Olinda Gil Says:

    Gostei muito do modo como trasncreveste o misto de sentimentos do menino! ;)

  4. Unknown Says:

    Obrigada, Olinda :)

    O conhecimento de causa torna menos difícil, se bem que transpor emoções para palavras nem sempre seja fácil :)

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