23:38
L'invitation @olhares.com por R de Rien
Song for Someone - Perry Blake
O invólucro que me cobre a Alma, mostra fortes sinais de necessitar de descanso. É urgente que se rasgue, que se dispa, que se regenere. É em busca dessa libertação, que não é apenas espiritual, que rumo como que em fuga em direcção ao meu lugar favorito de sempre... o mar.
Sento-me contemplando este gigante que me encanta, fecho os olhos, sinto o cheiro, recebo o astro rei que me arrepia a pele e me percorre o corpo entrando-me na corrente sanguínea e proporcionando uma sensação de prazer inexplicável.
Inicio então a minha viagem...
Neste momento, já não estou cá. Sou conduzida, não sei como nem por quem, sinto-me flutuar em direcção ao mar, sinto o frio que me arrefece o corpo tomar conta de mim ternamente, como se pegasse ao colo, como se eu fosse uma bem precioso de manuseamento cuidado, frágil...
E mergulho...
É incrível a sensação de nos entregarmos assim e simplesmente deixar-mo-nos levar, confiantes, pelas mãos do desconhecido, do inesperado, de uma fantasia ou de um sonho. Às vezes na vida é preciso arriscar, é preciso seguirmos o coração sem dar grande espaço aos "ses" e aos "e depois". A vida é feita de escolhas. É isso que lhe dá o sal, como o deste mar imenso.
Eu escolhi mergulhar de cabeça.
E não me arrependo da minha escolha, é tão lindo aqui em baixo, tão pacífico, tão aconchegante. Já nem me lembro da dor de cabeça e desdobro-me em mil e um movimentos de natação, procurando absorver cada momento, cada oferta que esta natureza tão generosamente me apresenta, vidrando-me os olhos, enchendo-me a alma. Curiosamente, penso agora, não preciso respirar aqui - que maravilha! Até de respirar eu andava cansada, mas aqui é tudo tão diferente, tudo tão mais naturalmente natural.
Estou eu nas minhas explorações pelo fundo do mar, acompanhada por mil peixinhos de todas as cores, eles não têm medo de mim, pareço ser-lhes familiar ou então estão habituados a ter por aqui estes seres estranhos que somos nós. Mas dizia eu, que enquanto explorava o fundo do Oceano, dei conta de umas ruínas. Fiquei logo com a adrenalina a mil porque é assunto que me cativa, sempre cativou. tudo o que tenha a ver com cultura e civilizações, e ter um exemplo disso numa inusitada viagem ao fundo do mar era a cereja no topo do bolo .... pensava eu.
Entrando no que em tempo teria sido um portão de entrada ou algo parecido, apanho um grande susto. Vindo na minha direcção, este rapaz, lindo por sinal, encara-me num misto de espanto e alegria.
- Olá! Estava tão sozinho por aqui, ainda bem que chegaste!
- Estavas à minha espera!? Arrisquei meio incrédula.
- Claro que sim, há anos que espero por ti!
- Mas, balbuciei, o que queres dizer com isso, de onde me conheces, como sabias que viria, se nem eu própria o sabia? Eu continuava estupefacta com a estranha situação, mas havia algo no jeito daquele rapaz que me inspirava paz, serenidade, confiança.
- Anda, vem comigo - disse ele - vou levar-te a conhecer um lugar, e lá explicar-te-ei tudo, não tenhas medo! - E estendeu-me a sua mão.
- Eu não tenho medo, respondi quase em automático, nem sei porquê, mas simplesmente não tenho! E fui, seguindo aquele rapaz moreno, de olhos expressivos e que emanava uma energia incrível capaz de me cativar instantaneamente.
Chegamos a um lugar que contando ninguém acredita, mas eu passo a descrever. Era um jardim, sim, era de facto um jardim no fundo do mar. Cheio de corais, algas e peixes de todas as cores, exalando um aroma (sabiam que podemos cheirar no fundo do mar sem encher os pulmões de água?) único. Era de facto um lugar mágico, eu estava assoberbada por aquele cenário idílico, e por aquela companhia fenomenal.
Sentamo-nos num banco de jardim feito de coral e de repente o sol começou a baixar trocando de lugar com a lua que agora se afigurava no alto do Mar. Existe o Sol e a Lua também no fundo do Mar. Estava a ser um momento bem alto na minha vida esta viagem, pois parecia que tudo o que eu mais admirava estava ali naquele lugar onde palavras stress, trabalho, desilusão, cansaço, entre tantas outras que pareciam viver em mim nos últimos dias não eram sequer uma lembrança ou uma assombração, não havia simplesmente lugar para elas. Depois, na presença daquele rapaz, bem capaz de ser aquele amor que toda a vida sonhei para mim... estava já na dúvida de se estaria numa viagem ou num sonho, mas isso não me preocupava no momento, apenas queria vivê-lo intensamente.
- Sabes, Rita, começou ele mas eu interrompi-o.
- Sabes como me chamo!?
- Claro que sei, sei tudo sobre ti, há muito tempo que te acompanho, como uma estrela guia, com a diferença de que estou no fundo do mar e não no céu.
- Mas como assim?
- Vou contar-te tudo!
- Estou a ouvir-te com atenção - disse-lhe com um brilho nos olhos próprio da emoção.
- Há alguns anos atrás senti que não pertencia ao lugar onde vivia, às pessoas que me rodeavam. Andava desgastado, viver tornara-se mais um sofrimento, uma obrigação do que uma alegria. Não sabia exactamente atribuir uma responsabilidade para esse facto, apenas sabia que era assim. Nessas alturas procurava o mar. E num desses dias vi-te, sentada no pontão de olhar ausente - estavas linda! - E nesse momento eu corei - Senti uma sintonia contigo, como se te lesse por dentro e percebesse que aquilo que eu vinha sentindo também se passava na tua própria vida. Apeteceu-me aproximar, mas existia uma qualquer barreira que não me permitia, era algo mais forte do que eu, e por isso preferi não forçar.
Passado algum tempo voltei a encontrar-te, talvez te lembres, trocamos duas ou três palavras, entre as quais me disseste o teu nome, curiosamente sem perguntares o meu de volta. Perguntei-te se estavas bem, mas respondeste apenas "nada está bem" e seguiste deixando-me angustiado e sem saber bem porquê.
Quando decidi vir nesta viagem para dar algum sentido à minha vida a tua imagem reflectiu-se na minha mente, claramente como se estivesses à minha frente e então eu percebi. Agora só tinha de te fazer entenderes também.
Desde então, tenho acompanhado a tua vida e o rumo que ela estava a tomar com preocupação, fui teu conselheiro nas noites de lua cheia em que procuraste no terraço as respostas para as tuas dúvidas, ou naqueles momentos em que, sem dúvidas, hesitavas na melhor decisão a tomar. Talvez nem sempre tenha sido o melhor dos conselheiros, mas fui com toda a certeza o mais dedicado porque me apaixonei por ti desde a primeira vez que te vi e te senti.
Neste momento eu simplesmente viajava nas palavras, uma viagem dentro de outra viagem - maravilhoso!
- Foste tu que me conduziste até aqui?
- Não, eu apenas te ensinei o caminho! Tu estás aqui porque essa foi a tua escolha, uma escolha da qual, espero, nunca te venhas a arrepender.
- Jamais me arrependerei, acredita. Eu sentia precisamente que não pertencia ao lugar onde vivia, precisava urgentemente de encontrar um rumo, um lugar onde me sentisse integrada, alguém que me compreendesse e me cuidasse - e dizendo isto corei - e parece que finalmente a minha busca não foi em vão.
Nesse momento os olhares pararam um no outro por alguns segundos feitos eternidade, ao fundo um piano emitia o som aveludado de uma carícia...
... e de repente voltei...
Estava de regresso de uma viagem ao fundo de mar e ao centro de mim. Vinha rejuvenescida, regenerada e cheia de energia. neste momento apenas pensava que não sabia ainda o nome daquele rapaz que me ficara com o coração para cuidar... para sempre.
Era de noite, a Lua ia alta e eu sorri... a Lua também brilha no fundo do mar...
texto escrito para: Fábrica de Histórias
Song for Someone - Perry Blake
A cabeça dói faz dias!
O invólucro que me cobre a Alma, mostra fortes sinais de necessitar de descanso. É urgente que se rasgue, que se dispa, que se regenere. É em busca dessa libertação, que não é apenas espiritual, que rumo como que em fuga em direcção ao meu lugar favorito de sempre... o mar.
Sento-me contemplando este gigante que me encanta, fecho os olhos, sinto o cheiro, recebo o astro rei que me arrepia a pele e me percorre o corpo entrando-me na corrente sanguínea e proporcionando uma sensação de prazer inexplicável.
Inicio então a minha viagem...
Neste momento, já não estou cá. Sou conduzida, não sei como nem por quem, sinto-me flutuar em direcção ao mar, sinto o frio que me arrefece o corpo tomar conta de mim ternamente, como se pegasse ao colo, como se eu fosse uma bem precioso de manuseamento cuidado, frágil...
E mergulho...
É incrível a sensação de nos entregarmos assim e simplesmente deixar-mo-nos levar, confiantes, pelas mãos do desconhecido, do inesperado, de uma fantasia ou de um sonho. Às vezes na vida é preciso arriscar, é preciso seguirmos o coração sem dar grande espaço aos "ses" e aos "e depois". A vida é feita de escolhas. É isso que lhe dá o sal, como o deste mar imenso.
Eu escolhi mergulhar de cabeça.
E não me arrependo da minha escolha, é tão lindo aqui em baixo, tão pacífico, tão aconchegante. Já nem me lembro da dor de cabeça e desdobro-me em mil e um movimentos de natação, procurando absorver cada momento, cada oferta que esta natureza tão generosamente me apresenta, vidrando-me os olhos, enchendo-me a alma. Curiosamente, penso agora, não preciso respirar aqui - que maravilha! Até de respirar eu andava cansada, mas aqui é tudo tão diferente, tudo tão mais naturalmente natural.
Estou eu nas minhas explorações pelo fundo do mar, acompanhada por mil peixinhos de todas as cores, eles não têm medo de mim, pareço ser-lhes familiar ou então estão habituados a ter por aqui estes seres estranhos que somos nós. Mas dizia eu, que enquanto explorava o fundo do Oceano, dei conta de umas ruínas. Fiquei logo com a adrenalina a mil porque é assunto que me cativa, sempre cativou. tudo o que tenha a ver com cultura e civilizações, e ter um exemplo disso numa inusitada viagem ao fundo do mar era a cereja no topo do bolo .... pensava eu.
Entrando no que em tempo teria sido um portão de entrada ou algo parecido, apanho um grande susto. Vindo na minha direcção, este rapaz, lindo por sinal, encara-me num misto de espanto e alegria.
- Olá! Estava tão sozinho por aqui, ainda bem que chegaste!
- Estavas à minha espera!? Arrisquei meio incrédula.
- Claro que sim, há anos que espero por ti!
- Mas, balbuciei, o que queres dizer com isso, de onde me conheces, como sabias que viria, se nem eu própria o sabia? Eu continuava estupefacta com a estranha situação, mas havia algo no jeito daquele rapaz que me inspirava paz, serenidade, confiança.
- Anda, vem comigo - disse ele - vou levar-te a conhecer um lugar, e lá explicar-te-ei tudo, não tenhas medo! - E estendeu-me a sua mão.
- Eu não tenho medo, respondi quase em automático, nem sei porquê, mas simplesmente não tenho! E fui, seguindo aquele rapaz moreno, de olhos expressivos e que emanava uma energia incrível capaz de me cativar instantaneamente.
Chegamos a um lugar que contando ninguém acredita, mas eu passo a descrever. Era um jardim, sim, era de facto um jardim no fundo do mar. Cheio de corais, algas e peixes de todas as cores, exalando um aroma (sabiam que podemos cheirar no fundo do mar sem encher os pulmões de água?) único. Era de facto um lugar mágico, eu estava assoberbada por aquele cenário idílico, e por aquela companhia fenomenal.
Sentamo-nos num banco de jardim feito de coral e de repente o sol começou a baixar trocando de lugar com a lua que agora se afigurava no alto do Mar. Existe o Sol e a Lua também no fundo do Mar. Estava a ser um momento bem alto na minha vida esta viagem, pois parecia que tudo o que eu mais admirava estava ali naquele lugar onde palavras stress, trabalho, desilusão, cansaço, entre tantas outras que pareciam viver em mim nos últimos dias não eram sequer uma lembrança ou uma assombração, não havia simplesmente lugar para elas. Depois, na presença daquele rapaz, bem capaz de ser aquele amor que toda a vida sonhei para mim... estava já na dúvida de se estaria numa viagem ou num sonho, mas isso não me preocupava no momento, apenas queria vivê-lo intensamente.
- Sabes, Rita, começou ele mas eu interrompi-o.
- Sabes como me chamo!?
- Claro que sei, sei tudo sobre ti, há muito tempo que te acompanho, como uma estrela guia, com a diferença de que estou no fundo do mar e não no céu.
- Mas como assim?
- Vou contar-te tudo!
- Estou a ouvir-te com atenção - disse-lhe com um brilho nos olhos próprio da emoção.
- Há alguns anos atrás senti que não pertencia ao lugar onde vivia, às pessoas que me rodeavam. Andava desgastado, viver tornara-se mais um sofrimento, uma obrigação do que uma alegria. Não sabia exactamente atribuir uma responsabilidade para esse facto, apenas sabia que era assim. Nessas alturas procurava o mar. E num desses dias vi-te, sentada no pontão de olhar ausente - estavas linda! - E nesse momento eu corei - Senti uma sintonia contigo, como se te lesse por dentro e percebesse que aquilo que eu vinha sentindo também se passava na tua própria vida. Apeteceu-me aproximar, mas existia uma qualquer barreira que não me permitia, era algo mais forte do que eu, e por isso preferi não forçar.
Passado algum tempo voltei a encontrar-te, talvez te lembres, trocamos duas ou três palavras, entre as quais me disseste o teu nome, curiosamente sem perguntares o meu de volta. Perguntei-te se estavas bem, mas respondeste apenas "nada está bem" e seguiste deixando-me angustiado e sem saber bem porquê.
Quando decidi vir nesta viagem para dar algum sentido à minha vida a tua imagem reflectiu-se na minha mente, claramente como se estivesses à minha frente e então eu percebi. Agora só tinha de te fazer entenderes também.
Desde então, tenho acompanhado a tua vida e o rumo que ela estava a tomar com preocupação, fui teu conselheiro nas noites de lua cheia em que procuraste no terraço as respostas para as tuas dúvidas, ou naqueles momentos em que, sem dúvidas, hesitavas na melhor decisão a tomar. Talvez nem sempre tenha sido o melhor dos conselheiros, mas fui com toda a certeza o mais dedicado porque me apaixonei por ti desde a primeira vez que te vi e te senti.
Neste momento eu simplesmente viajava nas palavras, uma viagem dentro de outra viagem - maravilhoso!
- Foste tu que me conduziste até aqui?
- Não, eu apenas te ensinei o caminho! Tu estás aqui porque essa foi a tua escolha, uma escolha da qual, espero, nunca te venhas a arrepender.
- Jamais me arrependerei, acredita. Eu sentia precisamente que não pertencia ao lugar onde vivia, precisava urgentemente de encontrar um rumo, um lugar onde me sentisse integrada, alguém que me compreendesse e me cuidasse - e dizendo isto corei - e parece que finalmente a minha busca não foi em vão.
Nesse momento os olhares pararam um no outro por alguns segundos feitos eternidade, ao fundo um piano emitia o som aveludado de uma carícia...
... e de repente voltei...
Estava de regresso de uma viagem ao fundo de mar e ao centro de mim. Vinha rejuvenescida, regenerada e cheia de energia. neste momento apenas pensava que não sabia ainda o nome daquele rapaz que me ficara com o coração para cuidar... para sempre.
Era de noite, a Lua ia alta e eu sorri... a Lua também brilha no fundo do mar...
texto escrito para: Fábrica de Histórias
[2011/04/10]
13 de abril de 2011 às 23:05 �
Acreditas que li 3 vezes esta texto, com intervalo de um dia cada... para compreender? Quem é esses rapaz? esse rapaz és "tu"? Cheia de dúvidas cheguei à conclusão que nem tudo tem de ter explicação e ficou-me a frase que me agrada "a Lua também brilha no fundo do mar", e quem diz Lua... :) beijinhos!
16 de abril de 2011 às 20:12 �
Olá Closet :)
Acho que estou a precisar de descansar (sorrisos), tenho a cabeça a fazer tilt e parece que isso se repercute na escrita hehe.
Aquele "rapaz" é uma parte de mim, que me desperta e me acorda para algumas das noções mais básicas do viver e que por vezes a vida chamada real faz por camuflar :)
penso que a explicação não seja mais clara que o próprio texto, mas neste momento não sei melhor :)
Beijo grande
16 de abril de 2011 às 23:29 �
Sabes Natacha, é por textos assim, que eu admiro tanto a tua escrita. As melhores viagens que fiz, foram precisamente aquelas que não saí do lugar. Agora pergunto, o título "viagem",é apenas porque falas de uma viagem, ou porque também saberias que ias fazer viajar quem te lesse com atenção? ;)
Bom fim de semana!
17 de abril de 2011 às 00:38 �
(sorrisos)
Já percebi que és um exagerado, mas quero agradecer-te do fundo do coração as tuas palavras. Para ti, que escreves de forma sublime, deve ser fácil perceber o que se sente quando ouvimos palavras assim. Pensar que as nossas palavras possam levar alguém numa viagem maravilhosa não tem explicação.
Já vou dormir feliz, e a culpa é tua! (risos) ou como diria o Homer " A culpa é minha e eu ponho em quem eu quiser" hehehe
Beijo