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"Não percam de vista a esperança mas mantenham os pés no chão"
Sara era uma entusiasta recém licenciada professora. Tinha finalmente cumprido o seu sonho de menina, desde os tempos em que brincava às escolas com os seus primos. Como era a mais velha, calhava-lhe sempre o papel da professora, e ela encarava o seu papel muito a sério. Hoje, atirando a sua capa, repleta de fitas, ao ar, sentia bem dentro de si que, agora sim, a sua missão iria começar.
Era com alguma mágoa e tristeza que observava os jovens da sua idade, alguns mais velhos e outros mais novos, e a forma como eles cometiam atentados persistentes à língua portuguesa, que ela considerava um dos maiores patrimónios que ainda restavam.
Estava decidida a fazer o que estivesse ao seu alcance para defender a língua portuguesa dos terroristas modernos, nascidos, quase todos, da era internáutica. Para ela, que tinha baseado o seu trabalho de fim de curso nesta particularidade dos tempos modernos, era claro que esta tendência para desconstruir a nossa língua e espoliá-la do que de mais profundo e intenso a veste, tinha tudo a ver com a internet, e a necessidade cada vez mais premente, quase fervente, da rapidez de contacto. Uma quase loucura na forma como se quer fazer chegar ao outro, ainda que distante, o que quer que seja. Então vieram as substituições de alguns conjuntos de letras pelos K, ou pelos X. Estas são talvez as mais evidentes.
Estava decidida a fazer o que estivesse ao seu alcance para defender a língua portuguesa dos terroristas modernos, nascidos, quase todos, da era internáutica. Para ela, que tinha baseado o seu trabalho de fim de curso nesta particularidade dos tempos modernos, era claro que esta tendência para desconstruir a nossa língua e espoliá-la do que de mais profundo e intenso a veste, tinha tudo a ver com a internet, e a necessidade cada vez mais premente, quase fervente, da rapidez de contacto. Uma quase loucura na forma como se quer fazer chegar ao outro, ainda que distante, o que quer que seja. Então vieram as substituições de alguns conjuntos de letras pelos K, ou pelos X. Estas são talvez as mais evidentes.
Para Sara, não seria, de todo, um problema que se usassem este tipo de métodos para comunicar por telemóvel ou internet, desde que primeiro se assegurasse de que quem os utiliza sabe como de facto se escrevem as palavras e não corressem o risco, e para ela a vergonha, de ir para um teste escrever assim também. Havia que incutir nas gerações mais novas a necessidade de saberem discernir em que contextos podiam utilizar as diversas formas de expressão e, preferencialmente, sem maltratar a nossa língua. Calão sempre existiu, não é por aí, mas criem-se raízes de amor à nossa língua nos jovens. Para além de tudo o mais, a Sociedade corria o sério risco de se tornar uma sociedade composta por eremitas que já não tinham capacidade de interagir a não ser através de um teclado ou de um ecrã, fosse ele de um PC, de um IPad, de uma tablet, de um telemóvel, enfim... de um sem fim de novas tecnologias colocadas ao dispôs dos mais novos em catadupa e num tão curto espaço de tempo.
Era por tudo isto que Sara já tinha planeado, em conjunto com mais dois colegas da faculdade que com ela hoje comemoravam a vitória na primeira caminhada em direcção ao fim maior: Defender a língua portuguesa, formarem uma Associação. Assim, a par da sua já mais que importante missão de ensinar nas salas de aula, promoveriam a defesa da língua mãe organizando eventos relacionados com escrita, leitura, de uma forma que os participantes mal se aperceberiam do que realmente estava por detrás de todos aqueles desafios. Esta associação era vocacionada para todos os jovens entre os 10 e os 20 anos. Era esta a faixa etária que corria um maior risco de vir a não saber utilizar a língua portuguesa da melhor forma.
Naquela tarde de fim de agosto, tinham combinado o encontro numa agradável esplanada para ultimarem os preparativos para o inicio do ano lectivo. O colégio onde trabalhavam e que agrupava todos os níveis de ensino num espaço enorme e bem cuidado tinha acedido a que a Associação se sediasse numa das salas disponíveis e sem utilização. Era ouro sobre azul. Assim poderiam criar actividades transversais a várias idades que competiriam entre si. Não seria de todo agradável para um aluno do 12º ano ser batido por um do 6º, certamente e este tipo de disputa saudável em torno de um bem comum fazia todo o sentido e iria atrair cada vez mais participantes.
A divulgação iria ser feita através de e-mail a todos os encarregados de educação, mas também pelos próprios organizadores que tentariam durante as aulas de apresentação assediar os alunos a inscreverem-se. Nada se pagava mas pretendia-se que o retorno fosse um imenso orgulho no nosso português.
Sara estava numa dessa aulas de apresentação, com alunos do 7º ano. Depois de esclarecer de que se tratava a Associação, uma aluna, Clara de seu nome, perguntou:
- E qual o nome da Associação?
- Em defesa da Língua Portuguesa - respondeu-lhe Sara, sorrindo.
- Boa s'tora. buéda fixe.
A professora fez-lhe um ar consternado e disse:
- Parece que temos a primeira associada desta iniciativa, já que tão bem representa aquilo que não se pretende, e piscou-lhe o olho - a turma riu.
Em Defesa da Língua Portuguesa - Entrada livre a todos os que admiram aquela que Fernando Pessoa tão bem descrevia como Pátria:
Era por tudo isto que Sara já tinha planeado, em conjunto com mais dois colegas da faculdade que com ela hoje comemoravam a vitória na primeira caminhada em direcção ao fim maior: Defender a língua portuguesa, formarem uma Associação. Assim, a par da sua já mais que importante missão de ensinar nas salas de aula, promoveriam a defesa da língua mãe organizando eventos relacionados com escrita, leitura, de uma forma que os participantes mal se aperceberiam do que realmente estava por detrás de todos aqueles desafios. Esta associação era vocacionada para todos os jovens entre os 10 e os 20 anos. Era esta a faixa etária que corria um maior risco de vir a não saber utilizar a língua portuguesa da melhor forma.
Naquela tarde de fim de agosto, tinham combinado o encontro numa agradável esplanada para ultimarem os preparativos para o inicio do ano lectivo. O colégio onde trabalhavam e que agrupava todos os níveis de ensino num espaço enorme e bem cuidado tinha acedido a que a Associação se sediasse numa das salas disponíveis e sem utilização. Era ouro sobre azul. Assim poderiam criar actividades transversais a várias idades que competiriam entre si. Não seria de todo agradável para um aluno do 12º ano ser batido por um do 6º, certamente e este tipo de disputa saudável em torno de um bem comum fazia todo o sentido e iria atrair cada vez mais participantes.
A divulgação iria ser feita através de e-mail a todos os encarregados de educação, mas também pelos próprios organizadores que tentariam durante as aulas de apresentação assediar os alunos a inscreverem-se. Nada se pagava mas pretendia-se que o retorno fosse um imenso orgulho no nosso português.
Sara estava numa dessa aulas de apresentação, com alunos do 7º ano. Depois de esclarecer de que se tratava a Associação, uma aluna, Clara de seu nome, perguntou:
- E qual o nome da Associação?
- Em defesa da Língua Portuguesa - respondeu-lhe Sara, sorrindo.
- Boa s'tora. buéda fixe.
A professora fez-lhe um ar consternado e disse:
- Parece que temos a primeira associada desta iniciativa, já que tão bem representa aquilo que não se pretende, e piscou-lhe o olho - a turma riu.
Em Defesa da Língua Portuguesa - Entrada livre a todos os que admiram aquela que Fernando Pessoa tão bem descrevia como Pátria:
(...) Não tenho sentimento nenhum político ou social. Tenho, porém, num sentido, um alto sentimento patriótico. Minha pátria é a língua portuguesa.
Livro do Desassossego por Bernardo Soares. Vol.I. Fernando Pessoa. (Recolha e transcrição dos textos de Maria Aliete Galhoz e Teresa Sobral Cunha. Prefácio e Organização de Jacinto do Prado Coelho.) Lisboa: Ática, 1982.
[2011/12/08]
9 de dezembro de 2011 às 02:01 �
Ora aí está uma boa causa nos tempos que correm :) a nossa língua maravilhosa!
E o Livro do desassossego e o meu Livro de cabeceira, sabias?(antigo e sublinhado como eu gosto, roubado da minha mana, shiuuu).
Gostei muito da história, vamos ver se arranjo uma causa até Domingo (que tal o dia ter 26 horas para eu dormir mais 2h??!!). Um beijinho!
10 de dezembro de 2011 às 17:10 �
Eu assino em baixo ;) afinal a Língua Portuguesa também é a minha Pátria. Um beijinho Natacha :)
10 de dezembro de 2011 às 18:47 �
Sónia, já estive com um na mão, para comprar (à falta de alguém a quem roubá-lo :p) ... mas era assim um bocado €urótico ;) (grande facada na língua portuguesa, agora :D)
Cá te espero então no turno da noite ;)
Ah, e lembra-te de que se o dia tivesse 26 horas, provavelmente as duas a mais não seriam para dormir mas sim para trabalhar: MEDO! :)
Beijosssssssssss
10 de dezembro de 2011 às 18:48 �
Olá Cláudio! :)
Que bom ter a tua assinatura neste texto, assim em forma de tatuagem indelével na minha alma ;) Obrigada.
Um beijo grande...
14 de dezembro de 2011 às 15:33 �
Bela defesa. Gostei muito, querida Natacha :)
Um grande beijinho
15 de dezembro de 2011 às 12:29 �
Obrigada, Leonor! Todos/as nós contribuímos um pouco para esta defesa ;) E tu, muito bem ;)
Beijo