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Genebra/2006 por António Bastos


A natureza gelada, parada, pode ter uma beleza aterradora.
O frio, o gelo, a neve, não raras vezes os associo a tristeza, a solidão...
Mas lá fora, quando espreito, e apesar do frio que se faz sentir, não há gelo.
Há um Sol maravilhoso e uma quietude tranquilizadora.

Mais um dia em que acordo determinada a manter a Esperança! Aqueço-me na energia emanada do Sol e do meu pensamento... e sinto-me tranquila e confiante.

E, por isso mesmo, e aproveitando mais um dos belissímos textos que a minha Amiga Gina me manda, aqui fica:

A Arte de ser Feliz

Houve um tempo em que minha janela se abria sobre uma cidade que parecia ser feita de giz. Perto da janela havia um pequeno jardim quase seco. Era uma época de estiagem, de terra esfarelada, e o jardim parecia morto. Mas todas as manhãs vinha um pobre com um balde, e, em silêncio, ia atirando com a mão umas gotas de água sobre as plantas. Não era uma rega: era uma espécie de aspersão ritual, para que o jardim não morresse. E eu olhava para as plantas, para o homem, para as gotas de água que caíam de seus dedos magros e meu coração ficava completamente feliz. Às vezes abro a janela e encontro o jasmineiro em flor. Outras vezes encontro nuvens espessas. Avisto crianças que vão para a escola. Pardais que pulam pelo muro. Gatos que abrem e fecham os olhos, sonhando com pardais. Borboletas brancas, duas a duas, como refletidas no espelho do ar. Marimbondos que sempre me parecem personagens de Lope de Vega. Ás vezes, um galo canta. Às vezes, um avião passa. Tudo está certo, no seu lugar, cumprindo o seu destino. E eu me sinto completamente feliz. Mas, quando falo dessas pequenas felicidades certas, que estão diante de cada janela, uns dizem que essas coisas não existem, outros que só existem diante das minhas janelas, e outros, finalmente, que é preciso aprender a olhar, para poder vê-las assim.

Cecília Meireles

[2008/11/26]

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5 Responses to "Quietude"

  1. Seagul Says:

    Natacha
    A arte de ser feliz naquilo que os amigos nos dizem...
    Beijinho.
    Gina

  2. Seagul Says:

    E ainda...

    Era um amieiro.
    Depois uma azenha.
    E junto
    um ribeiro.

    Tudo tão parado.
    Que devia fazer?
    Meti tudo no bolso
    para os não perder.

    Jinho. Gina
    Eugénio de Andrade

  3. Unknown Says:

    Olá Gina

    E ainda...

    Colhe
    todo o oiro do dia
    na haste mais alta
    da melancolia

    Do mesmo Eugénio de Andrade

    Beijosssss

  4. Lusbelo Says:

    E ainda...

    Que privilégio para mim um dia termos cruzado os nossos caminhos.

    Beijos

  5. Unknown Says:

    Privilégio o meu...

    Beijos

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